O "CRIME" E A CONDENAÇÃO DE DOROTHY STANG


QUERIDOS AMIGOS(AS) INTERNAUTAS

Por mais hediondo que seja um crime, como aqueles que têm enodoado a reputação de nosso país, acaba sendo sepultado pela poeira do tempo e do esquecimento.
Os escândalos são tão freqüentes nesse nosso Brasil que a mídia não dá conta e acaba por substituir os mais antigos pelos mais recentes.

A opinião pública já não se surpreeende e até convive, sem sobressaltos, com os atos de corrupção praticados por políticos e agentes públicos. Com os atos de violência ocorre o mesmo. Estamos vivendo um tempo sinistro de banalização da corrupção e da violência. Corrupção e violência por vezes entrelaçadas, cúmplices e solidárias em um macabro matrimônio.
Sinal dos tempos?
No espaço restrito de uma postagem não nos é possível analisar as causas remotas de tanta acomodação da sociedade civil ante os crimes que estarrecem e afrontam a nossa consciência cidadã. E, sobretudo, reduzem esse gigante Brasil a uma nação desmoralizada, uma Mianmar tropical.
Arriscamo-nos a sugerir que entre os elementos que concorrem para a proliferação da violência e da corrupção estão a precariedade da educação e a impunidade da qual se beneficiam os criminosos.
E assim, as vítimas acabam se convertendo em réus. Perdem a vida e depois de mortas são julgadas e condenadas. É o caso presente da missionária Dorothy Stang. Stang foi duas vezes assassinada. Da primeira vez tombou em uma estrada de terra no interior do Pará. Na segunda vez, mudaram os assassinos. O júri popular que deveria fazer justiça no caso preferiu, contrariando indícios, provas, testemunhos, motivação para o crime e afrontando a família da morta - presente no julgamento - e a opinião pública internacional, absolver o mandante do crime, Vitalmiro. Assim sendo, a irmã Dorothy Stang, defensora da floresta e das suas criaturas, foi sumariamente julgada, condenada e mais uma vez assassinada. Os assassinos são outros. Mais frios e mais crueis porque travestidos de fazedores de justiça.
Se este fosse um país sério, deveriam ir para a cadeia todos os membros do juri que votaram pela absolvição, por cumplicidade explícita e declarada com o mandante do crime.
Vamos recordar Castro Alves em seu Navio Negreiro:

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí...
Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ...

Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil...
Meu Deus! Meu Deus! Que horror
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...



Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia? Silêncio.
Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...


O nosso objetivo nessas postagens todas é promover o debate que o caso Dorothy Stang deveria suscitar entre internautas, pelo menos na cidade de Quixadá sede do blog O TORTO , hoje um relevante polo universitário, que sedia vários cursos de formação de educadores, historiadores e que mantém um curso de direito.
Preocupa-nos que após várias postagens, ninguém tenha se habilitado a colocar sequer um lacônico comentário, seja concordando ou discordando dos pontos de vista aqui esposados.
Mais cruel que a impunidade é a constatação de que até a juventude universitária está perdendo a capacidade de se indignar. E isso nos remeterá a um futuro sombrio onde o estado de direito democrático será inevitavelmente substituído por um território onde prevalecerá a lei de Talião e a barbárie se imporá como regra única e definitiva de sobrevivência.

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