MUDANÇAS? É ESPERAR PARA CRER

OS SÉRIOS E MÚLTIPLOS DESAFIOS DE BARACK OBAMA

Num discurso de pouco mais de 2.300 palavras (o tamanho de uma página de jornal standard), pronunciado em sua posse, em 20 de janeiro, o novo presidente dos EUA, Barack Obama conseguiu a façanha de abordar muitos dos principais temas que inquietaram o mundo nas últimas décadas, principalmente durante o mandato de George W. Bush, e indicar a intenção de mudar em profundidade a postura da principal potência econômica e militar do planeta em relação às demais nações, a seu povo e ao próprio legado democrático que faz parte da história dos EUA.

O discurso é abundante em alusões a este legado, desde a indefectível expressão ''nós, o povo'', que abre a Constituição dos EUA, usada para reafirmar a fidelidade ''aos ideais de nossos antepassados'' e ''aos nossos documentos fundamentais'', como a própria Carta Magna, vilipendiada durante o governo Bush. O discurso foi pontilhado de referências à crise econômica, à guerra (e também ao combate ao terrorismo, esta agenda que se tornou uma obsessão estadunidense), ao dogma neoliberal do tamanho do Estado (que não importa: ele precisa é ser eficiente, disse), ao racismo, à necessidade de programas sociais e de melhoria da previdência social, à solidariedade no lugar do egoismo, à transparência e correção nos atos do governo, ao combate à fome no mundo, aos imigrantes que construíram aquela nação, à necessidade de defender o meio ambiente e o planeta.

Não esqueceu também a herança religiosa, tão cara a grande parte da população que o elegeu presidente - mas lembrada para afirmar a igualdade entre todos, a liberdade e o direito de buscar a felicidade.


Obama amparou-se no leglado democrático dos EUA, e algumas frases merecerão fazer parte, no futuro, de uma antologia das mudanças, como a que atribui a crise à ''cobiça e irresponsabilidade de alguns'', mas também ao ''fracasso coletivo em fazer escolhas difíceis e preparar o país para uma nova era''.


O tempo de ''repudiar mudanças, proteger interesses limitados e protelar decisões desagradáveis - esse tempo certamente já passou. A partir de hoje, devemos nos reerguer, sacudir a poeira e começar novamente o trabalho de refazer a América'', afirmou.

Reafirmou o poder do mercado para gerar riqueza e ''expandir a liberdade'', mas reconheceu que ele precisa ser controlado, e ''uma nação não pode prosperar por muito tempo quando favorece apenas os prósperos''.


Rejeitando a ''falsa a opção entre nossa segurança e nossos ideais'', pregou o respeito à lei e aos direitos humanos, ''ideais (que) ainda iluminam o mundo, e não vamos abandoná-los em nome da conveniência''. Defendeu conversações com ''antigos amigos e ex-inimigos'', falou em deixar, ''de maneira responsável'', ''o Iraque para sua população, e forjar uma paz duramente conquistada no Afeganistão''.


Descreveu como uma qualidade a multiplicidade étnica e cultural da formação dos EUA (''nossa herança de colcha de retalhos''). ''Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus - e de descrentes. Somos formados por todas as línguas e culturas, saídos de todos os cantos desta Terra'', na qual ''a América deve exercer seu papel trazendo uma nova era de paz.'' E acenou aos muçulmano com um caminho ''baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo''.

Prometeu uma ''nova era de responsabilidade'', reconhecendo os deveres dos estadunidenses para com seu próprio povo, sua nação, e o mundo. Os desafios que ele tem pela frente são reais, disse. ''São sérios e são muitos'', e sua solução não será fácil nem rápida. Mas ''serão resolvidos'', garantiu.

Um discurso de posse é sempre uma solene declaração de intenções, e é assim que a peça oratória de Barack Obama deve ser lida - a manifestação do desejo de mudar a atitude do governo dos EUA perante o mundo, perante seu próprio povo, e perante os ricos de seu país, cujos interesses pontificaram absolutos nas últimas décadas. ''Escolhemos a esperança acima do medo (uma imagem que lembra a eleição de Lula em 2002), a unidade de objetivos acima do conflito e da discórdia''.



Milhões de pessoas, em Washington, testemunharam a manifestação destes propósitos que contrastam com tudo o que foi feito nos EUA desde a presidência de Ronald Reagan, no começo dos anos 80. Ele apontou para mais negociação e menos unilateralismo, mais equidade e menos arrogância. O mundo espera que as 2.300 palavras do discurso do novo presidente dos EUA se convertam num programa efetivo, que deixe para trás o desrespeito à lei, à soberania das nações, num mundo em que a agressividade guerreira do imperialismo estadunidense seja uma lembrança dolorosa do passado.



Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=49825


COMENTÁRIOS DO BLOG
É bem verdade que em seu discurso Barack Obama quis deixar clara o quanto ele é diferente de Busch e o quanto o seu governo também será. Porém não podemos esquecer que Obama é presidente de um país extremamente nacionalista e que não será fácil romper com os idéias e as ideias daquele povo que para conseguir seus objetivos passam por cima de tudo e de todos.

Não se deve esperar mudanças radicais, mas qualquer mudança em benefício da população mundial será bem vinda.

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