MORRE PAULO AUTRAN: UM ARAUTO DA LIBERDADE



TRISTEZA
12/10/2007 - 16h21
Morre o ator Paulo Autran, aos 85 anos
Da Redação* da Folha On Line

Morreu às 16h10, aos 85 anos, em São Paulo, o ator Paulo Autran. Ele estava internado desde a tarde de ontem no Hospital Sírio Libanês. Paulo Autran sofria de câncer de pulmão e enfisema pulmonar há cerca de um ano e já havia sido internado recentemente em diversas ocasiões, a última ocorrida no sábado passado (5), com alta recebida na terça-feira (9). O corpo está sendo velado na Assembléia Legislativa de São Paulo desde as 19h.

Paulo Autran (1922 - 2007)

Há poucos meses, o ator passou mal durante apresentação do espetáculo "O Avarento", sua 90ª peça, e foi internado com suspeitas de problemas cardíacos. Paulo Autran nasceu no Rio de Janeiro em 1922 e mudou-se ainda jovem para São Paulo, onde formou-se em direito na Faculdade do Largo São Francisco, em 1945. Nessa época, participou de peças amadoras, o início de uma das mais expressivas carreiras de artes cênicas do Brasil. A estréia como ator ocorreu em 1949, no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo), na peça "Um Deus Dormiu Lá em Casa", em que contracenou com a atriz Tonia Carrero, uma de suas melhores amigas. Desde então, Autran participou de mais 89 peças, entre elas "Otelo", "Antígona", "My Fair Lady" e "Visitando o Sr. Green". A última peça encenada pelo ator foi "O Avarento", texto de Molière escrito em 1668, em cartaz em São Paulo.

Comentário do blog:

Na década de 60, quando aínda éramos estudante universitário, tivemos a oportunidade de assistir no Theatro José de Alencar a peça LIBERDADE, LIBERDADE de Millor Fernades e Flávio Rangel protagonizada por Autran. Era um tempo de trevas. A classe de atores era perseguida, agredida, como no casos dos atores de RODA VIVA, e todas as produções culturais (letras de músicas, peças teatrais, novelas, livros) e a própria imprensa mutiladas pela tesoura da censura e muitas vezes definitivamente proibidas. Nem os jornais, porta-vozes oficiosos da ditadura,O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, escaparam da tesoura. Os que mais sofreram no longo eclipse que se abateu sobre o Brasil foram os pensantes, intelectuais, por conta de sua extrema sensibilidade. Sofreram uma dor lancinante ante a truculência indiscriminada dos opressores. Paulo Autran e alguns atores foram altivos e nunca se deixaram intimidar. Esse é um traço pouco conhecido do grande público que aprendeu a admirar Paulo Autran pelo seu talento no teatro, na televisão e no cinema.Na noite escura Paulo Autran, Chico Buarque, Nara Leão, Marília Pera, Mario Lago e outros lançaram, com sua coragem e talento um facho de luz e esperança.

Autran, sem nenhuma dúvida, já está imortalizado no coração, na mente e no imáginário do povo brasileiro. O seu legado será a inspiração para atores e atrizes mais jovens cultuarem e defenderam a liberdade na sua forma mais plena, sem tutelas.

Depoimentos sobre Paulo Autran:

Leia a repercussão da morte do ator Paulo Autran
da Folha de S.Paulo
Atualizada às 22h27 de 13.10.2007

ANTÔNIO ABUJAMRA, ator:"O Paulo foi um ator que todos gostaríamos de ser. Ele sempre ajudou a todos nós, foi um caminho a ser seguido. Trabalhou comigo numa peça no Rio com uma generosidade fantástica. Somos todos apaixonados por ele, e a inveja de possuir uma voluptuosidade invejável para a cena."
CELSO FRATESCHI, ator e presidente da Funarte:"Paulo é meu padrinho de casamento. Foi uma pessoa muito importante na minha vida pessoal. Como homem público, como ator, ele é sinônimo de teatro. Se perguntar a qualquer brasileiro a que associa a palavra teatro, vai dizer Paulo Autran. Isso só dignifica nossa profissão. Para ele, acho que [a morte] foi um sossego, porque estava sofrendo muito com a doença. Mas, para todos nós, é uma perda irreparável."
CLEYDE YÁCONIS, atriz:"É uma tragédia você perder um Paulo --o teatro da idéia, da mensagem. Pode chamar de careta, mas é como a gente é. Sou espiritualista. Acho que [a carreira dele] não era uma profissão, era uma missão. E ele cumpriu. Trabalhou até o final, até quando o corpo permitiu."
DOMINGOS OLIVEIRA, ator, dramaturgo, diretor de teatro e cineasta:"É difícil falar diante do vazio que ele nos deixa. É um ator único e insubstituível, um homem único e insubstituível. Representa finura, elegância, sofisticação, participação social. Vai deixar uma saudade danada."
FERNANDA TORRES, atriz:"Fico feliz de ter visto o Paulo no 'Avarento', inteiro e maravilhoso com mais de 80 anos, com casa cheia. Encerrou a carreira com uma peça de ouro. Foi inteiro até o fim."
HECTOR BABENCO, cineasta:"Uma perda capital, um Brasil que se vai. Fica o Brasil da barbárie imperando. Um grande homem, grande ator, grande homem de teatro, que viveu intensamente as vitórias e as derrotas. Na próxima encarnação, quero voltar Paulo Autran!"
JOHN HERBERT, ator:"Era um grande colega, um grande brincalhão, um gozador. O coração chora."
MARIA DELLA COSTA, atriz:"Era um companheirão, que viveu para sua arte e respeitou sua profissão. É um exemplo para os jovens. Nossa geração enfrentou duas ditaduras terríveis: a de Getúlio e a militar. Mas Paulo é prova de que o teatro jamais morrerá."
MARÍLIA PÊRA, atriz:"A gente fica buscando como falar de uma pessoa desse tamanho... O melhor a dizer é que ele é inesquecível, virou eterno, ficará para sempre nas nossas memórias e nos nossos corações. Aos 18 anos, fui bailarina dele no 'My Fair Lady'. Foi quando o conheci. Ele ia se apresentar no teatro mesmo quando estava doente, com o braço quebrado, sem voz. São coisas que um ator qualquer não faz, e essa foi uma lição que ele me ensinou."
SÁBATO MAGALDI, crítico:"Por sua capacidade de fazer tanto peças clássicas quanto modernas, Paulo Autran foi um dos maiores talentos do palco brasileiros. Ele se tornou uma grande figura do TBC [Teatro Brasileiro de Comédia], na Companhia Tônia-Cheli-Autran e toda essa geração que trabalhou com os diretores [Zibgniew] Ziembinski e Flaminio Bollini, atuou no momento em que teatro brasileiro tinha o mesmo valor do melhor teatro mundial. Não devíamos nada a Itália, França e Estados Unidos."
SÉRGIO BRITTO, ator:"Na minha geração, mesmo os mais invejosos concordavam que Paulo era o maior ator brasileiro. Era um ícone estabelecido. Ficar um ano em cartaz hoje em dia com uma peça de Molière, como "O Avarento", é só para um ator solidamente querido pelo público. Acompanhei seu trabalho desde a década de 50 e ele estava sempre bem. No início do ano, eu o vi pela última vez e percebi nos seus olhos que estava bem doente. Era o rosto de uma pessoa que sofria."
TÔNIA CARRERO, atriz:"Não posso falar, se eu falar qualquer coisa vai ser trêmula e esquiva. Não quero falar."

da Folha Online

PARABÉNS PAULO AUTRAN PELO SEU EXTRAORDINÁRIO TALENTO, PELA SUA INTEGRIDADE!

UM GRANDE ABRAÇO!!!

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