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A Revolução cubana comemora neste primeiro dia do ano 50 anos de triunfo. De seus protagonistas sobrevivem Fidel, agora afastado do poder e seu irmão Raul. Dois de seus comandantes estão mortos. O primeiro a sair de cena foi o legendário Camilo Cienfuegos. No dia 28 de outubro de 1959, após conter uma rebelião em Camagüey, no vôo do regresso a Havana, desaparece junto com os demais companheiros. Seu avião sumiu no mar e nunca foi encontrado nenhum vestígio do mesmo. Quanto ao Che, todos sabem em que circunstâncias foi assassinado pela CIA (Agência Central de Inteligência - americana) na selva boliviana. Guevara foi capturado pelos rangers do Exército boliviano, treinados pelos Estados Unidos em 8 de outubro de 1967. Passou a noite numa escola de La Higuera, a 50 quilômetros de Vallegrande, e, no dia seguinte, por ordem do presidente da Bolívia, general René Barrientos, foi executado com nove tiros pelo soldado boliviano, agente da CIA, Mário Terán, da maneira mais covarde que se pode imaginar.
Dos quatro mais importantes comandantes sobrevivem então Fidel e Raul Castro. Raul é hoje o 40º Presidente da República e 2º Presidente do Conselho de Estado da República de Cuba.
Em duas ocasiões estivemos, com as preciosas companhias de Reginaldo e Renê, na ilha heróica do Caribe. Lá fizemos boas amizades na Clínica Camilo Cienfuegos. Todas as manhãs escutávamos o toc toc dos saltos dos sapatos de um anjo chamado Marilin Morales. Era uma uma médica que batia à porta de nosso apartamento e, enquanto esfregávamos os olhos, nos cumprimentava com um beijo. E assim nos cumprimentavam também as outras funcionárias da Clínica Camilo Cienfuegos: enfermeiras, auxiliares de enfermagens, copeiras, auxiliares de serviços gerais. Na rua encontrávamos sempre o mesmo policial que nos cumprimentava todos os dias. O taxista já era nosso conhecido, com ele barganhávamos o preço da corrida quando, eventualmente nos levava até Havana Vieja ou outro ponto distante de Havana.
Na rua éramos abordados por curiosos que queriam descobrir nossa nacionalidade e a partir daí perguntarem sobre o Brasil de Ronaldo e de Romário, suas referências. Nunca fomos impedidos de entrar em qualquer lugar. Fotografamos e filmamos tudo o que quisemos: o museu da Revolução, o memorial José Marti a Universidade de Havana, estabelecimentos militares da praça da Revolução. Não vimos filas em hospitais e nem mendigos nas ruas.
De manhã cedo as praças estavam repletas de pessoas da terceira idade ou de crianças se exercitando sob a orientação de professores de educação física.
A tardinha as avenidas de Havana eram coloridas pelos uniformes dos estudantes de diversos níveis que passavam o dia inteiro nas escolas.
Encantamo-nos também com as praias de Varadero e Santa Maria onde se pode entrar com água a altura do tórax e ainda ver os próprios pés e a alvura da areia que lembra açucar usado na fabricação e decoração de confeitos.
Assistimos missa aos domingos. O padre nos pareceu conservador e até criticava o governo. Ao lado do altar a bandeira cubana estava posta na Catedral de Havana. Chamou-nos a atenção também a presença reduzida de jovens nas igrejas. Mas, além da igreja Católica constatamos a existência de templos de outras religiões e seitas e também da maçonaria. Tudo indica que a propalada perseguição religiosa é mais uma inverdade parida pelos inimigos de Cuba.
Praticamente cruzamos a capital Havana em todos os quadrantes. Visitamos a Escola de Química da Universidade de Havana, onde fomos recebidos pela decana(diretora) que nos presenteou com alguns livros de química editados pela Universidade. Estivemos na Central dos Trabalhadores Cubanos (CTC) onde entrevistamos em duas oportunidades um de seus dirigentes. Conversamos abertamente sobre Cuba, sem restrições. Servi de intérprete de um sindicalista mineiro do PCB que nos acompanhava, nosso amigo José João de Contagem (MG). Ao final perguntou José João: "Como era Cuba antes da Revolução?" De pronto o dirigente sindical respondeu: "Igual ao Brasil de hoje: violência, miséria e corrupção" . Lembremo-nos que estávamos ainda no governo FHC aqui no Brasil.
Neste início de ano, prenúncio de uma nova era, estaremos torcendo de maneira vigorosa para que o embargo norte-americano possa ser levantado e mais que nunca seja respeitada a autodeterminação e a soberania da gloriosa ilha do Caribe, a heróica Cuba.
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