AMIGOS QUIXADAENSES
Registro aqui meu imenso pesar pela morte do Marinho. Tenho dele boas recordações em que pese a nossas eternas divergências do ponto de vista ideológico e político. Só convergíamos em um aspecto: éramos torcedores do Leão. Mas, eu nunca tratei de futebol com o Marinho.
No período crítico vivenciado pela FECLESC, nos idos de 1987, Marinho integrou-se aos que lutavam pela sobrevivência da Instituição.
Como foi isso?
Vejamos. Na época, as comissões de verificação de Cursos do antigo Conselho Federal de Educação (que vinham verificar "in loco" a estrutura das instituições para emitir parecer sobre cursos que estavam pretendendo autorização ou reconhecimento) estavam vindo a Quixadá para fazer a vistoria na FECLESC.
Um dia tínhamos que transportar a comissão de Pedagogia constituída por dois professores da Universidade Federal da Paraíba cujos nomes não me ocorrem agora. A UECE não tinha nenhum carro para transportá-los a Quixadá. De maneira temerária resolvi comprar um carro usado, um corcel II, em uma revenda do Kleiton, esposo da professora Beliza, que facilitou a compra, para que eu pudesse usá-lo na viagem para Quixadá.
Apanhei os professores no hotel e segui a BR 116. Tencionava depois prosseguir pela estrada do Algodão mas não foi possível. Na descida que dava acesso a Pacajús percebi que o ponteiro da temperatura estava no seu limite. Parei o carro e junto com o professor visitante, inadvertidamente, colocamos água fria, de uma carroça que passava, no radiador do carro. Com o motor superaquecido a junta do tampão fundiu. Empurramos o carro até uma oficina próxima e pegamos carona no carro da Beliza e em outro carro de uma sra. que ia para Quixadá. Dia seguinte os profs. Jacinto e Miguel vieram resolver o problema e levar o carro de volta. Não confiei no veículo e pedi um carro da prefeitura de Quixadá para o retorno dos professores.
E aí entrou o Marinho na história da gloriosa FECLESC. Ele dirigiu o passat vermelho metálico da Secretaria de Educação, conduziu-nos com prudência e nos tratou com muita cortesia, levnado-nos, confortavelmente, ao nosso destino.
Geralmente, quando nos encontrávamos, Marinho comentava esse fato, com muita certa vaidade e satisfação. Era a sua colaboração valiosa, mais que simbólica, efetiva, além do discurso. Estava contribuindo como o beija-flor da historinha. (Clique para conhecer a versão do Betinho). na vida, mais que os símbolos, valem os gestos. Dentro de seus limites, Marinho fez a sua parte, na hora em que foi solicitado.
Discutíamos muito sobre política. Nunca chegamos a consenso nessa temática. Nunca houve confrontos deselegantes. Na sua simplicidade, na sua alegria quase ingênua, Marinho sempre se portou como um cavalheiro. Marinho sempre acreditou nas idéias que defendia e mantinha uma lealdade irrestrita a seus aliados. Entre nós persistiu uma relação de respeito mútuo, mesmo na refrega das vésperas de eleição.
Talvez seja uma evidência de envelhecimento, mas confesso que me emocionei com o impacto da notícia do passamento de Marinho. O cenário exuberante de Quixadá vai se ressentir de ausência uma figura humana que não se permitiu ser apenas um figurante. Fez-se personagem da política e contribuiu de maneira modesta, mas objetiva, para a consolidação da querida e imortal FECLESC. E, houve tantos omissos!!! Quantas avestruzes enfiaram a cabeça no buraco na hora do sofrimento! (clique para saber como as avestruzes se comportam na hora da tempestade).
Quis o destino que Marinho abandonasse a arquibancada no momento em que o Fortaleza enfrenta uma de suas maiores crises com ameaça de rebaixamento para o grupo C. Quem sabe, da outra dimensão onde se encontra, possa ele conseguir um reforço extraterreno para o Leão.
Há anos pretendo fazer um resgate da saga da FECLESC para repor a verdade tão distorcida, de modo leviano e irresponsável, por quem não vivenciou, como ator, nossa luta desigual e sequer se preocupa com o rigor científico e a isenção que devem reger as pesquisas históricas. Lamentável!!!
Não permita Deus que eu parta deste mundo sem que concretize esse último sonho. Lá, certamente, haverá um lugar para o Marinho e tantos outros atores que, mesmo de maneira incidental ou acidental, acrescentaram um tijolinho na edificação da nossa querida FECLESC.
Estou com muitas saudades Marinho. Você também faz parte de nossa história, a história verdadeira e desmistificada da maior conquista do povo do Sertão no capítulo de suas expectativas de libertação, de quebra dos grilhões, de combate ao coronelismo e à exploração.
Um grande abraço
Gilberto Telmo Sidney Marques
P.S. Reginaldo,se possível, ponha uma foto do Marinho nos seus bons momentos.
Esta postagem, na sua forma original e não editada, foi publicada ontem no blog do Cristiano. Clique para conferir.
O texto poderá ser reproduzido por todos os meios disponíveis, desde que citada a fonte.
1 comentários:
Parabéns Prof.Telmo pelo artigo... Essa homenagem ao hoje saudoso Marinho é mais do que justa, merecida. Só homens da sensibilidade apurada como o Sr. poderiam externar tão exuberante homenagem, carregada de conteúdo e simbolismo ao referir-se a um conterrâneo imensamente querido....!!!
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