RELEMBRANDO AZIZ BAQUIT

TRIBUTO A AZIZ OKKA BAQUIT

Assumimos a direção da Unidade Acadêmica de Quixadá em 1987, em meio a uma crise aguda. Os cursos superiores de Ciências, Pedagogia e História estavam cassados desde dezembro de 1986 pelo Conselho Federal de Educação e o vestibular supenso deixando antever o provável fechamento daquela Instituição. Além disso, a faculdade enfrentava dificuldades políticas no seu relacionamento com a comunidade e com as lideranças que tinham contribuído para a sua criação.
Um pouco antes de assumirmos fomos levado, pelo prof. William Guimarães, a presença do prefeito Aziz Baquit, em visita de cortesia. Contamos depois com sua honrosa presença na comemoração de nossa posse.
No nosso discurso inicial havíamos afirmado: “Com as autoridades da Universidade, do Estado e do Município manteremos relações formais e cordiais”. A nossa proposta de trabalho incluía, como premissa, o reencontro e a reconciliação da FECLESC com a comunidade que a construíra. A cordialidade foi sempre a tônica nos nossos contatos com Aziz desde o primeiro momento. Político habilidoso ele era, sem nenhuma dúvida, um cavalheiro. No primeiro momento, exigiu que não usássemos o tratamento cerimonioso de senhor. Acatamos sua exigência.
Sabíamos, por acompanhar a gênese da Faculdade, de sua contribuição decisiva para a construção do prédio e a implantação da Unidade da UECE de Quixadá. Consta que, muitas vezes, emprestou dinheiro de suas empresas para o pagamento dos operários da construção. A querida e imortal FECLESC é a concretização de um sonho coletivo catalisado pelo querido educador e visionário Luiz Oswaldo, mas só se materializaria com a contribuição maiúscula de lideranças do município do peso de Everardo Silveira e da estatura de Aziz Baquit.
Em 1987, antes de nossa posse, com a mediação de Ricardo Carneiro, foi firmado um convênio de contrapartida Prefeitura-FECLESC, transferindo recursos da PMQ para o diretor da época, prof. William Guimarães, iniciar a construção dos laboratórios de química, física e biologia.
A falta de meios da Faculdade nos levou muitas vezes a recorrer ao prefeito de Quixadá. No episódio cruel da cassação dos cursos pelo Conselho Federal de Educação esteve solidário com nossa luta, desde o primeiro instante, fazendo-se representar nas nossas assembléias, disponibilizando veículos da PMQ e manifestando-se por telegramas enviados as autoridades da UECE e do governo do Estado.
Os primeiros Jogos das Faculdades do Interior (lamentavelmente extintos), em 1988, só aconteceram por conta do patrocínio da PMQ determinado por Aziz. Convidado, ele esteve ao nosso lado na solenidade de abertura (veja foto acima). Cabe-nos lembrar dois fatos importantes. O primeiro é que apresentamos um cardápio variado e de boa qualidade, sem termo de comparação. O segundo diz respeito aos custos. Havíamos contratado o serviço de alimentação pela importância de seiscentos e cinqüenta mil cruzeiros que seriam quitados em duas parcelas pela PMQ. A primeira seria paga adiantadamente e a segunda após trinta dias. Conseguimos antecipar a liberação da segunda parcela e obtivemos uma redução de cinqüenta mil cruzeiros. Devolvemos os cinqüenta mil cruzeiros ao prefeito. Surpreendido Aziz comentou: - “Professor, em toda a minha vida pública, é a primeira vez que alguém devolve dinheiro para a prefeitura”. Fizemos o que nos competia. O gesto nos credenciaria para outras investidas.
Com o apoio da administração Aziz Baquit, no ano de 1989, realizamos em Quixadá o I Encontro Cearense de Estudantes de História e ainda, no mesmo ano, os estudantes da faculdade, em número significativo, puderam participar do Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia em Goiânia, viajando em ônibus fretado pela prefeitura municipal de Quixadá. Durante a sua administração cedeu alguns funcionários da prefeitura para prestar serviços na Faculdade, suprindo lacunas importantes. Nos tempos da crise com a FECLESC jamais se queixou da possível incompreensão, das dificuldades de relacionamento, jamais externou ressentimentos, sempre nos recebeu com cortesia e acolheu nossos pleitos.
Durante o tempo em que administrou a Rádio Monólitos tivemos um incidente sério provocado por um locutor equivocado. Tratamos do assunto pessoalmente com Aziz. Foi-nos concedido um espaço de reparação. E o mal estar foi dissipado.
Quando da comemoração dos vinte anos da FECLESC, em 2003, Aziz atendeu nosso convite e compareceu à Câmara Municipal de Quixadá para ser homenageado. E na ocasião testemunhamos, confortado, um sonhado reencontro cordial e fraterno de Aziz Baquit e Luiz Oswaldo dois parceiros, compadres e amigos que a política havia afastado por algum tempo. O gesto, de um conteúdo simbólico inestimável, valorizaria e engrandeceria toda a programação do evento.
Por duas ocasiões a política nos colocou em lados opostos. A primeira vez foi em 1992 quando Aziz disputou a prefeitura e a última recentemente em 2004 quando ele foi candidato a vice-prefeito. Em nenhum momento houve qualquer constrangimento ou desgaste em nossas relações. No dia da última eleição municipal nos encontramos na Faculdade e nos cumprimentamos com cordialidade. Nunca escondemos nossa admiração, nosso respeito e nossa estima pessoal pelo emérito benfeitor da FECLESC. Sua contribuição para a criação e consolidação da Instituição já bastaria para fazê-lo credor de nossa gratidão.
Caro Aziz: vamos continuar lembrando muito de você. Veremos você em muitos lugares dessa querida Quixadá. Mas, com a absoluta certeza, vamos encontrá-lo sempre quando passarmos pela padaria do João Pires e quando visitarmos a FECLESC que tem com você uma dívida impagável. A história honesta e isenta da nossa faculdade garantirá um espaço a altura de seus méritos. E a justiça será feita na sua plenitude. Já estamos com saudades. Um grande abraço

Gilberto Telmo Sidney Marques - professor e ex-diretor da FECLESC
Na foto Aziz entre o prof. Gilberto Telmo, diretor da FECLESC e o reitor da UECE Perípedes Chaves na abertura dos I Jogos das Faculdades do Interior - Quixadá 1988. Clique na foto para ampliá-la

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