QUERIDOS
AMIGOS E QUERIDAS AMIGAS DA FECLESC, COLEGAS PROFESSORES, CARÍSSIMOS
FUNCIONÁRIOS E ESTUDANTES DE TODAS AS GERAÇÕES
Não
permitiu o destino que estivéssemos com vocês neste momento de ímpar de
confraternização. Enquanto transcorre a comemoração de 30 anos da FECLESC
estaremos acompanhando uma intervenção cirúrgica de nossa companheira no
Hospital Gastroclínica. Eis a razão de nossa ausência.
Impossibilitado
de abraçá-los pessoalmente vamos deixar aflorar livremente alguns sentimentos,
sem restrições e sem censuras.
Sentimos
saudades daqueles tempos venturosos em que tivemos o privilégio de servir,
através da FECLESC, à comunidade do Sertão Central.
Mergulhamos
em um mundo de reminiscências. Lembranças felizes de nossas conquistas: o
reconhecimento dos cursos, da criação formal da FECLESC junto aos colegiados
superiores da UECE, a aprovação de seu estatuto, a construção dos laboratórios
iniciada pelo prof. William Guimarães e apropriados de maneira indébita pela
SECITECE para abrigar outra instituição. Lembramos também a criação dos jogos
das Faculdades do Interior, inaugurados em Quixadá e que tiveram sua última apresentação também em Quixadá. A
criação do primeiro clube de Xadrez de Quixadá aconteceu na FECLESC por
iniciativa do aluno Eurides da Justa Neto e formou mais de cem enxadrista
durante sua existência. No seu pioneirismo em defesa da Interiorização a
FECLESC comandou a luta pelo reconhecimento dos cursos de Quixadá, Itapipoca e
Crateús, criou o Encontro das Faculdades do Interior, sediou o Primeiro
Encontro Cearense de Estudantes de História coordenado pelo CALHA sob o comando
da querida Francisca Nobre. Em pouco mais de quatro anos (1987-1992) a FECLESC
desenvolveu mais atividades de extensão universitária que os Centros de
Fortaleza, conforme registram os anais da PROEX.
A
FECLESC é hoje uma instituição
maiúscula, brava, teimosa e resistente como o povo do Sertão, ao qual ela
serve. Nada, absolutamente nada do que ela significa, foi obtido como concessão
ou expressão da generosidade de um eventual detentor do poder. A FECLESC é fruto de uma luta, insana, de muita batalha. A FECLESC é o
produto ainda inacabado de uma construção coletiva.
A
nossa FECLESC é hoje um patrimônio
inegociável e indelével do povo cearense. Está
enraizada e não acampada, no Interior do Estado, servindo, de maneira
competente, às comunidades, ministrando cursos regulares de graduação, sem
franquias e sem terceirizações É este o seu grande diferencial.
A
FECLESC e a demais faculdades do Interior também não são dádivas. São
conquistas da suas comunidades. Na maior parte dos casos, a Universidade
agregou patrimônio: os prédios e toda a infra-estrutura, como nos casos de
Quixadá, Iguatu e Limoeiro. Nas várias ocasiões em que a indébita ingerência
politiqueira tentou impor interesses subalternos no processo de interiorização
da UECE, ocorreram fracassos retumbantes. Hoje, os nossos ex-alunos estão nas
escolas atuando como professores, substituindo profissionais de outras
categorias que até há pouco tempo ocupavam aqueles espaços. E as conseqüências
da Interiorização da UECE se manifestam na mudança de hábitos, na transformação
de costumes, na cobrança que a sociedade faz dos poderes públicos, na
organização popular, no exercício da cidadania. E ainda que a expansão da UECE
tivesse “apenas melhorado o nível do papo de botequim”, como dizia o amigo e
entusiasta da interiorização Paulo Petrola, de saudosa memória, já teria valido
a pena. E a FECLESC fez muito mais...
Na
época crucial das incertezas criamos o refrão O SERTÃO VAI SER DOUTOR. E o Sertão se fez doutor através de nossas
crias Joana Adelaide Cabral Moreira, Gilberto Dantas Saraiva, Altemar Muniz e
João Luzeilton (ex-alunos nossos) e tantos outros,
Na
esteira de tantas recordações registramos aqui a nossa gratidão aos que nos
conduziram à direção da FECLESC em duas eleições consecutivas em 1987 e 1988 e,
colaborando com a nossa administração, se
fizeram protagonistas de muitas batalhas vitoriosas.
Agradecemos
aos colegas professores que estiveram na luta desde o início como Yvone
Cordeiro Barbosa, Carlos Jacinto de Oliveira e a saudosa amiga Vânia Facó que
foram os primeiros coordenadores. Aos que nos ajudaram a criar as licenciaturas
plenas de ciências como Miguel Leitão, Carlos Jacinto e José Maildo. Aos
professores Luiz Oswaldo, Verônica de Paula (in memoriam), Socorro Lucena pelo
compromisso com os cursos de Pedagogia e História. A todos os demais
professores que, comprometidos com a FECLESC, tornaram nossa tarefa mais suave.
Sem esquecer a inestimável contribuição do prof. Artur Pinheiro que foi nosso
vice-diretor na segunda administração.
Lembramos
ainda que coordenaram com extraordinária competência o concurso público de
professores que teve suas 13 vagas multiplicada, profs, Jacinto, Artur e Santiago
Refiro-me
agora aos funcionários como, o sr. Paiva e o sr.Pinheiro, já falecidos e o
velho Badel merecedores do nosso respeito pelo fidelidade à Instituição. E, na
sequência, quero lembrar com saudade e ternura dos nossos anjos da guarda, das
nossas rosas, Rosália, Dília, Ana, Carmen, Cieda, D.Socorro.
Não
poderíamos esquecer os queridos estudantes do CALO representados pelo saudoso e combativo Miguel Peixoto, a
Sheila Gonçalves, os estudantes do CALHA
entre eles Francisca Nobre, Socorro Holanda, Cristiano Goes, Reginaldo Barbosa,
João Álcimo e os dirigentes do CACISC
Evaneusa Vidal, Carlos Osmar que criaram o cursinho pré-vestibular da FECLESC e
administraram a Feira de Ciências do Sertão Central durante alguns anos.
Os
jogos das Faculdades do Interior são uma invenção da FECLESC e surgiram de uma
reivindicação dos estudantes Rinaldo Roger, Paulo Ângelo e Chiquim Saraiva.
Organizados
em seus Centros Acadêmicos os estudantes tiveram uma participação expressiva em
todos as batalhas travadas e são credores de nossa eterna gratidão.
Dos
estudantes recebemos inúmeras manifestações espontâneas de carinho e alguns presentes.
Dois deles nos tocaram o fundo do
coração: uma bengala e um banco plantado nos jardins da Faculdade, próximo à
cantina. A bengala guardo comigo até hoje porque um dia talvez tenha alguma
serventia. Quanto ao banco, está por aí
a espera que algum arqueólogo possa retirar a camada cinza que cobre a sua
inscrição.
Neste
ponto queremos registrar nossa melhor homenagem aos pioneiros da FECLESC
sobretudo ao seu iluminado inventor esse inquieto amigo Luiz Oswaldo que nos
apoiou no nosso ingresso e durante todo o tempo em que estivemos na direção da
FECLESC. Homenageamos também membros da comunidade local como o Deputado
Everardo Silveira que negociou com o governador Gonzaga Mota a encampação da
Unidade de Quixadá à UECE, o ex-prefeito falecido Aziz Baquit pelo empenho na
construção do prédio e o Sr, Joaquim Gomes (Quinzinho) e seus familiares pela
doação do terreno que abriga a FECLESC.
Não poderíamos aqui esquecer a contribuição valiosa de Rachel de Queiroz e da pró-Reitora Solange Rosa ao longo do processo e também junto ao Conselho Federal de Educação.
Homenageamos
ao final os ex-diretores que nos antecederam prof. Luiz Oswaldo, profa.
Laudícia Holanda, prof. William Guimarães, ao prof. Artur Pinheiro que nos
sucedeu, a todos que ocuparam a direção da FECLESC, de modo especial a atual
direção integrada pelos profs. Jorge e
Claudia Régia, pelo zelo com que cuida da expansão e manutenção do patrimônio.
Agora
vamos fazer uma reflexão
O
que fazer para sobreviver com dignidade e preservar nossa Universidade isenta
das tentações, das más influências de suas congêneres que já ingressaram no
caminho perverso da privatização?
Não
temos fórmulas mágicas. No nosso cotidiano, aprendemos a provocar algumas
reações químicas de pequena dimensão e até a exercer sobre elas um controle
relativo. Mas, não temos fórmulas mágicas, sejam elas do acervo da química ou
dos alfarrábios da alquimia. Aprendemos a lutar, em todos os tempos, contra o
arbítrio, contra a humilhação, mas os cenários se modificaram. A FECLESC tem hoje, sem nenhuma sombra de dúvida, um
considerável capital intelectual, construído a duras penas. Construído, via de
regra, pela dedicação e o desprendimento de cada um de seus mestres e doutores.
A academia, celeiro de mentes privilegiadas deve buscar soluções, abrir
caminhos. Este é seu papel indelegável. E para todos os, sujeitos da história,
temos lembrado uma frase singela e verdadeira do saudoso padre Antonio Vieira
(o nosso, o autor do antológico O Jumento, nosso irmão): “Não podemos ser
como o boi que se deixa arrastar para a morte porque desconhece a força que
tem”.
Unidos
estudantes, professores e servidores serão imbatíveis na construção de um
projeto eficaz, na elaboração de estratégias que possam fortalecer a nossa
Instituição. Não podemos cultivar o silêncio obsequioso, mas, mesmo praguejando
contra a escuridão, é necessário e fundamental acender uma vela para espantar
as trevas da insegurança e da incerteza... Mais que nunca devemos fazer valer o
dístico da UECE Lumen ad Viam.
Há
muito ainda por fazer, para transformarmos coletivamente a UECE que temos na
UECE que pretendemos ter e por quem a sociedade cearense espera ansiosamente.
Há necessidades básicas que precisam ser atendidas urgentemente no que tange à
melhoria da infra-estrutura, dos laboratórios, dos equipamentos esportivos, das
bibliotecas, do investimento na assistência estudantil, da ampliação do valor e
do número de bolsas de trabalho e de iniciação científica, de ações efetivas de
extensão universitária, sobretudo no entorno dos vários campi da UECE, na
capital e no interior. O progresso e desenvolvimento do interior do Estado
estarão subordinados, de maneira inequívoca ao redirecionamento das ofertas e à
criação de novos cursos de graduação que atendam às vocações naturais e
demandas crescentes da população das comunidades onde a nossa universidade está
implantada. Mas todas essas ações quedarão invariavelmente natimortas e
sepultadas nas boas intenções, se não houver a comunhão de todos os agentes, do
reitor e de seus assessores, de funcionários, professores e estudantes.
Convergência de interesses e o resgate da dignidade dos diversos atores que
compõem nossa universidade. Fundamental e imprescindível é a vontade política
dos governantes e seu comprometimento com a sagrada causa da educação e da
emancipação do povo sofrido do nosso Estado.
Estamos
aqui em um momento solene de afirmação de nossa FECLESC. São trinta anos de
sobrevivência altiva. Mas não podemos sufocar nossa indignação. É uma imposição
de nossa consciência de cidadão livre reagir contra a arbitrariedade. O governo
do estado asfixia a universidade e critica a criação de seus mestrados.
Suprime, através de manobras
sub-reptícias direitos trabalhistas consagrados pelo Supremo Tribunal Federal.
Essas atitudes nos trazem perplexidade,
desconfiança, insegurança e caracterizam uma inominada violência contra a
categoria
Mas,
não é hora de desânimos, de desencantos. É hora de superação. Esta é a palavra.
É a chave. É a saída. Mais que nunca é preciso acreditar! Mas que nunca é
preciso lutar! Reverter com talento e obstinação o quadro de incertezas.
Acodem-nos
aqui algumas frases do discurso de Chaplin, em O Grande Ditador :
“O caminho da vida pode ser o
da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos
homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a
passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade,
mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina que produz abundância,
tem-nos deixado em
penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa
inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência,
precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e
tudo será perdido”.
Vamos
concluir convidando a todos e a cada um para cultivar uma grande utopia,
construir um Ceará mais digno, um Brasil mais justo, um mundo melhor, como
propôs um dia Herbert de Souza, o
Betinho, um cidadão, um visionário semeador de utopias:
“Utopia? Sim, pode ser, mas que
pode se transformar em
realidade. Afinal nascemos para isso, para superar os limites
e as situações que nos desumanizam e encontrar caminhos da nova humanidade,
aquela que construímos com a nossa ação, da cidadania, da democracia. Com a
miséria e a violência a democracia é uma mentira. E sem a democracia a vida
civilizada é impossível”.
Vamos pluralizar o slogan da
festa. Afinal, velhos e novos, componentes de todas as gerações, somos todos
protagonistas. A FECLESC É PRODUTO DE
UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA. Assim poderíamos registrar: “NÓS TODOS FAZEMOS PARTE
DESSA HISTÓRIA”.
O destino, repetimos, privou-nos deste
momento ímpar de confraternização. Na impossibilidade de abraçar pessoalmente a
cada um de vocês desejamos, de coração, muitas felicidades. Felicidades!
Parabéns FECLESC querida!
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