MAIS NOTÍCIAS. FINALMENTE ALGUÉM RESOLVE INVESTIGAR. A QUEM INTERROGAR? POR QUE D. MARIA TERESA GOULART SE IRRITAVA QUANDO ALGUÉM SUGERIA QUE JANGO FOI VÍTIMA DE ASSASSINATO? SÃO PERGUNTAS QUE NÃO PODEM CALAR
Josias de Souza
Apuração foi aberta por ordem do ministro da Justiça
O Procedimento antecede a abertura de um inquérito
Busca-se checar o depoimento de ex-agente uruguaio
Operação envolve a busca de informações no Uruguai
O ministro Tarso Genro (Justiça) recebeu, nesta quinta-feira (31), cópia do depoimento de Mario Neira Barreiro. Trata-se de um ex-agente do serviço secreto do Uruguai. Ele diz ter participado de uma operação que resultou no assassinato do ex-presidente brasileiro João Goulart (1918-1976). Depois de ler as declarações de Barreiro, o ministro chamou ao seu gabinete o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Deu-lhe uma ordem.
Tarso determinou ao mandachuva da PF que abra uma investigação formal. Trata-se de procedimento que o ministro define como “preliminar”. Nas próximas semanas, a PF se dedicará a checar detalhes do depoimento de Barreiro. Se concluir que as informações são verazes, será aberto um inquérito para apurar todas as circunstâncias que envolveram a morte de Jango, em 1976.
Para cumprir a ordem de Tarso Genro, a PF terá de realizar investigações no Uruguai, país em que Jango se exilou depois de ter sido deposto pelo golpe militar de 64. Será, nas palavras do ministro, um “trabalho discreto.” O governo brasileiro recorrerá a acordos de cooperação firmados com o país vizinho. Acordos que prevêem a troca de informação entre os aparatos policiais.
Barreiro foi interrogado pela própria PF na última quarta-feira (30). Na essência, o ex-agente uruguaio repetiu à polícia o que dissera à repórter Simone Iglesias. Disse ter participado de uma equipe batizada de “Centauro”. Sua missão era espionar Jango. Monitorou-o de 73 até o dia de sua morte.
Contou, de resto, que Jango não morreu de infarto, como registram os livros de história. Foi assassinado. Por ordem do governo brasileiro. Uma ordem que, segundo diz, foi repassada ao serviço secreto uruguaio pelo ex-delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) Sérgio Paranhos Fleury, que morreu em 1979.
Para matar Jango, segundo a versão de Barreiro, o serviço secreto do Uruguai adicionou comprimidos com ingredientes letais nos frascos de medicamentos que Jango tomava para controlar as coronárias. O ex-presidente teria ingerido um dos falsos medicamentos, fabricados com o propósito deliberado de simular um ataque cardíaco.
No depoimento à PF, colhido no presídio gaúcho de Charqueadas, onde cumpre pena por tráfico de armas, o ex-agente Barreiro recuou num ponto. Na entrevista que concedera a Simone Iglesias, publicada na edição da Folha do último domingo (27), o ex-agente uruguaio dissera que a ordem para assassinar Jango partira do então presidente Ernesto Geisel (1908-1996). À polícia, ele disse que o suposto envolvimento de Geisel decorre não de uma informação, mas de “impressão” que teve dos diálogos que manteve à época dos fatos.
A despeito de ter claudicado na versão sobre Geisel –“Pelo próprio depoimento dele se vê que essa história de que houve ordem do Geisel não tem fundamento”, diz Tarso Genro—, o depoimento do ex-agente uruguaio impressionou o ministro da Justiça. “Ele dá uma série de informações que parecem fazer sentido”, disse Tarso ao blog. “Algumas delas eu próprio testemunhei.”
O ministro conta que, ao exilar-se no Uruguai, na década de 70, passou 30 dias na fazenda de João Goulart. Deu-se em janeiro de 71. Jango era amigo do pai de Tarso, Adelmo Simas Genro. Haviam participado juntos da fundação do PTB no município gaúcho de São Borja. No convívio com ex-presidente, na fazenda uruguaia, o ministro diz ter presenciado uma rotina que condiz com o que afirma o ex-agente Barreiro.
“O Jango recebia três, quatro pessoas por dia”, rememora Tarso. “Eram compradores e vendedores de gado; brasileiros de direita, de esquerda e de centro; políticos uruguaios. A fazenda tinha uma pista de pouso. Aterrissavam lá e iam conversar com ele. O Jango não tinha nenhuma segurança. Isso ele [Barreiro] diz no depoimento. E as informações que ele passa conferem exatamente com o que eu vi e com o que eu conheço da personalidade do Jango.”
Daí a decisão do ministro de encomendar uma apuração: “Pedi para a PF fazer novas investigações preliminares, para consolidar alguns dados que constam do depoimento. Se esses dados se confirmarem, vai ser aberto o inquérito. Se não se confirmarem, não será aberto”, diz Tarso Genro.
Embora considere que o depoimento de Barreiro “tem coerência, tem lógica”, o ministro é cuidadoso ao se referir aos próximos passos da investigação: “Ele diz que foi treinado, desde os 17 anos, como agente da policia uruguaia, para cumprir determinadas tarefas. Isso é facilmente verificável. A partir dessas checagens, que envolverão outros dados, poderemos concluir que ele é um grande mentiroso e está tentando obter algum benefício penal ou que ele está falando a verdade. Se estiver falando a verdade, será aberto o inquérito.”
O suposto crime não está prescrito? “Não se trata de decidir, preliminarmente, se há ou não prescrição”, responde o ministro da Justiça. “Primeiro é preciso saber se houve ou não o delito. A partir daí é que se pode verificar se houve prescrição. Esse exame vai ser feito depois. O doutor Luiz Fernando [diretor da PF] vai designar alguém da confiança dele para conduzir a apuração preliminar. Depois, vamos verificar. Se os dados se confirmarem, definiremos como será feito o inquérito policial para averiguar se houve uma tentativa ou até o assassinato do presidente João Goulart.”
O ministro estima que a apuração preliminar da PF vai durar de 45 a 60 dias.
Apuração foi aberta por ordem do ministro da Justiça
O Procedimento antecede a abertura de um inquérito
Busca-se checar o depoimento de ex-agente uruguaio
Operação envolve a busca de informações no Uruguai
O ministro Tarso Genro (Justiça) recebeu, nesta quinta-feira (31), cópia do depoimento de Mario Neira Barreiro. Trata-se de um ex-agente do serviço secreto do Uruguai. Ele diz ter participado de uma operação que resultou no assassinato do ex-presidente brasileiro João Goulart (1918-1976). Depois de ler as declarações de Barreiro, o ministro chamou ao seu gabinete o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Deu-lhe uma ordem.
Tarso determinou ao mandachuva da PF que abra uma investigação formal. Trata-se de procedimento que o ministro define como “preliminar”. Nas próximas semanas, a PF se dedicará a checar detalhes do depoimento de Barreiro. Se concluir que as informações são verazes, será aberto um inquérito para apurar todas as circunstâncias que envolveram a morte de Jango, em 1976.
Para cumprir a ordem de Tarso Genro, a PF terá de realizar investigações no Uruguai, país em que Jango se exilou depois de ter sido deposto pelo golpe militar de 64. Será, nas palavras do ministro, um “trabalho discreto.” O governo brasileiro recorrerá a acordos de cooperação firmados com o país vizinho. Acordos que prevêem a troca de informação entre os aparatos policiais.
Barreiro foi interrogado pela própria PF na última quarta-feira (30). Na essência, o ex-agente uruguaio repetiu à polícia o que dissera à repórter Simone Iglesias. Disse ter participado de uma equipe batizada de “Centauro”. Sua missão era espionar Jango. Monitorou-o de 73 até o dia de sua morte.
Contou, de resto, que Jango não morreu de infarto, como registram os livros de história. Foi assassinado. Por ordem do governo brasileiro. Uma ordem que, segundo diz, foi repassada ao serviço secreto uruguaio pelo ex-delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) Sérgio Paranhos Fleury, que morreu em 1979.
Para matar Jango, segundo a versão de Barreiro, o serviço secreto do Uruguai adicionou comprimidos com ingredientes letais nos frascos de medicamentos que Jango tomava para controlar as coronárias. O ex-presidente teria ingerido um dos falsos medicamentos, fabricados com o propósito deliberado de simular um ataque cardíaco.
No depoimento à PF, colhido no presídio gaúcho de Charqueadas, onde cumpre pena por tráfico de armas, o ex-agente Barreiro recuou num ponto. Na entrevista que concedera a Simone Iglesias, publicada na edição da Folha do último domingo (27), o ex-agente uruguaio dissera que a ordem para assassinar Jango partira do então presidente Ernesto Geisel (1908-1996). À polícia, ele disse que o suposto envolvimento de Geisel decorre não de uma informação, mas de “impressão” que teve dos diálogos que manteve à época dos fatos.
A despeito de ter claudicado na versão sobre Geisel –“Pelo próprio depoimento dele se vê que essa história de que houve ordem do Geisel não tem fundamento”, diz Tarso Genro—, o depoimento do ex-agente uruguaio impressionou o ministro da Justiça. “Ele dá uma série de informações que parecem fazer sentido”, disse Tarso ao blog. “Algumas delas eu próprio testemunhei.”
O ministro conta que, ao exilar-se no Uruguai, na década de 70, passou 30 dias na fazenda de João Goulart. Deu-se em janeiro de 71. Jango era amigo do pai de Tarso, Adelmo Simas Genro. Haviam participado juntos da fundação do PTB no município gaúcho de São Borja. No convívio com ex-presidente, na fazenda uruguaia, o ministro diz ter presenciado uma rotina que condiz com o que afirma o ex-agente Barreiro.
“O Jango recebia três, quatro pessoas por dia”, rememora Tarso. “Eram compradores e vendedores de gado; brasileiros de direita, de esquerda e de centro; políticos uruguaios. A fazenda tinha uma pista de pouso. Aterrissavam lá e iam conversar com ele. O Jango não tinha nenhuma segurança. Isso ele [Barreiro] diz no depoimento. E as informações que ele passa conferem exatamente com o que eu vi e com o que eu conheço da personalidade do Jango.”
Daí a decisão do ministro de encomendar uma apuração: “Pedi para a PF fazer novas investigações preliminares, para consolidar alguns dados que constam do depoimento. Se esses dados se confirmarem, vai ser aberto o inquérito. Se não se confirmarem, não será aberto”, diz Tarso Genro.
Embora considere que o depoimento de Barreiro “tem coerência, tem lógica”, o ministro é cuidadoso ao se referir aos próximos passos da investigação: “Ele diz que foi treinado, desde os 17 anos, como agente da policia uruguaia, para cumprir determinadas tarefas. Isso é facilmente verificável. A partir dessas checagens, que envolverão outros dados, poderemos concluir que ele é um grande mentiroso e está tentando obter algum benefício penal ou que ele está falando a verdade. Se estiver falando a verdade, será aberto o inquérito.”
O suposto crime não está prescrito? “Não se trata de decidir, preliminarmente, se há ou não prescrição”, responde o ministro da Justiça. “Primeiro é preciso saber se houve ou não o delito. A partir daí é que se pode verificar se houve prescrição. Esse exame vai ser feito depois. O doutor Luiz Fernando [diretor da PF] vai designar alguém da confiança dele para conduzir a apuração preliminar. Depois, vamos verificar. Se os dados se confirmarem, definiremos como será feito o inquérito policial para averiguar se houve uma tentativa ou até o assassinato do presidente João Goulart.”
O ministro estima que a apuração preliminar da PF vai durar de 45 a 60 dias.
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