EDITORIAL DO SITE VERMELHO -PARA REFLEXÃO

SENHORES SENADORES, DOBREM A LÍNGUA COM A PETROBRAS
Findo o recesso parlamentar, voltam a se assanhar os marimbondos, seja com a crise no Senado ou com a CPI da Petrobras. Há indícios de que o bloco oposicionista-midiático sairá do muro e priorizará a CPI. Ocorre que a rajada de denúncias de compadrios senatoriais, que se força a mão para descarregar sobre o solitário lombo do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), apresenta o risco de sair pela culatra. Ela alveja o PMDB, que a oposição sonha ter como aliado em 2010. E a nota assinada pelo presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), neste fim de semana, mostra que o tiroteio irrita peemedebistas num arco que vai bem além do Senado. Já a CPI, no planejamento oposicionista-midiático, tem como alvo o PT. Este é a sigla do presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, e o suposto beneficiário das denúncias garimpadas seletivamente para uso na comissão. Os senadores oposicionistas podem portanto agir sem receio de acertar potenciais aliados. Agregue-se que a Petrobras é, desde o berço, um desafeto histórico da corrente ideológica que hoje se opõe a Lula. Um de seus expoentes, Roberto Campos [1917-2001] só a chamava "Petrossauro". Há quem sonhe com uma CPI que represente a revanche face à autossuficiência petrolífera em 2007, a descoberta do pré-sal em 2008 ou os elogios à petroleira na mídia internacional em 2009.
Aí reside outro perigo para o bloco oposicionista-midiático: trata-se de uma empresa peculiar. Nem tanto pelo tamanho, pela galeria de êxitos, a excelência tecnológica ou a origem nos braços da campanha "O Petróleo é Nosso". Por tudo isso, mas para além de tudo isso, a Petrobras tornou-se no imáginário coletivo como uma espécie de ícone do Brasil que dá certo.
Os próprios oposicionistas, alertados por pesquisas, dão-se conta de que mexem com material inflamável. Caso seu discurso seja percebido como anti-Petrobras, hão de se haver não só com manifestações de petroleiros da FUP e estudantes da UNE. Esbarrarão em uma convicção enraizada na consciência brasileira – a mesma que em 2006 forçou Geraldo Alckmin ao patético gesto de cobrir-se com marcas de estatais, fantasiado de adversário das privatizações. O risco se aguça pois a Petrobras não se dispõe a cruzar os braços frente a uma CPI que considera despropositada e solerte. A criação do blog da empresa mostra que ela está disposta a travar uma batalha casa por casa na disputa da opinião pública. Não levará desaforo para casa.
Portanto, senhores senadores oposicionistas – inclusive os que se acoitam em siglas da base de apoio do governo –, dobrem a língua com a Petrobras. Uma CPI é um instrumento democrático de investigação e debate. E compreende-se que seja em primeiro lugar um instrumento das oposições (ainda que vetado em governos tucanos como o do ex-presidente Fernando Henrique, os dos governadores José Serra e Yeda Crusius).
Mas não se excedam em temeridades com seus palitos de fósforo. Não se fiem demais na cumplicidade midiática. Não afrontem o sentimento patriótico que se expressa no apreço pela Petrobras. Se o fizerem, é bem capaz que terminem lamentando que essa CPI, em vez de "acabar em pizza", exponha Vossas Excelências a um vexame como o de Alckmin em 2006, com 2,4 milhões de votos perdidos entre o primeiro e o segundo turnos da eleição.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=60807

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