Vamos continuar as nossas homenagens ao Padre Haroldo
Esta postagem resgata momentos importantes da atuação política corajosa do padre José HAROLDO Coelho, nosso colega, professor da UECE e companheiro na luta pela valorização dos professores e pela implantação do PISO SALARIAL. Seus gestos firmes delineiam, com precisão, a sua determinação na luta pelas grandes causas. Na internet há dezenas de manifestações de pesar pelo seu passamento. A publicação desses flagrantes é uma homenagem do blog a esse sacerdote indomável que lega para a posteridade um exemplo de combatividade, coragem e dignidade.
Assistamos:
Padre Haroldo na Greve dos Professores - na assembléia legislativa
Padre Haroldo na Praça do Ferreira em defesa da liberdade de Cesare Battisti
Em defesa da democracia direta
Sobre a ficha limpa
Apoiando a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio
EDIÇÃO
EXTRAORDINÁRIA DE HOJE, SÁBADO, DIA 12 Amigos quixadaenses
Consternado, noticiamos esta informação publicada na edição on-line do jornal O POVO de sexta feira.. Mais um combatente de primeira hora
deixa nosso convívio e é privado do seu direito ao PISO SALARIAL dos professores das universidades estaduais cearenses. Nas primeiras
reuniões para lutar pelo PISO SALARIAL na quadra do CH era o seu discurso
inflamado que nos inspirava. Há pouco menos de um ano, após a decisão do STF
rejeitando a "reclamação trabalhista" da PGE, ele voltou a se
manifestar na grande assembléia geral no auditório da UECE. Até recentemente
ela tratava da questão PISO SALARIAL nas homilias de suas missas dominicais da
igreja do Carmo, denunciando a prepotência do governo do estado.
O seu corpo foi sepultado ontem, por volta das dezoito horas no cemitério Parque da Paz. O velório aconteceu, durante todo o dia de ontem, na igreja de Santa Edwiges na avenida Leste-Oeste e a missa de corpo presente foi oficiada pelo arcebispo de Fortaleza D. José Antonioi Aparecido Tosi Marques.
Leiamos a notícia do jornal O POVO:
PARADA RESPIRATÓRIA11/01/2013 - 20h47
Morre Padre Haroldo, aos 77 anos, em Brasília
Faleceu às 21h30min desta
sexta-feira, 11, em Brasília, o padre Haroldo Coelho, aos 77 anos. A informação
é do assessor do padre, Alexandre Távora.
O religioso e militante político do
Psol estava internado há 10 dias na UTI do Hospital Daher, no Lago Sul. Padre
Haroldo foi à Brasília para passar as festas de fim de ano com familiares e foi
internado na passagem do Ano Novo, devido a problemas respiratórios.
Nos últimos dois dias ele não vinha
respondendo aos antibióticos e apresentava um quadro de infecção generalizada.
Esta noite o religioso teve uma parada respiratória.
Biografia
José Haroldo Bezerra Coelho nasceu em
24 de março de 1935, em Fortaleza. Iniciou seus estudos religiosos no Seminário
Menor dos Padres Lazaristas, no bairro Antônio Bezerra. Ordenou-se Diácono pela
Diocese de Nova Friburgo, em 1963. No ano seguinte, na mesma diocese, recebeu
ordenação presbiteral. Padre Haroldo recebeu sua ordenação definitiva em 29 de
novembro de 1964, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, localizada no Centro
de Fortaleza.
Padre Haroldo cursou a Faculdade de
Filosofia Nossa Senhora Medianeira, em São Paulo (Jesuítas) e licenciou-se
também em Ciências Sociais. Fez pós-graduação na Universidade de Sorbonne, na
França.
Nos anos 80 ele retornou ao Ceará.
Foi professor da UECE e trabalhou no Santuário de Fátima, Igreja do Carmo e
Paróquia de Nossa Senhora das Graças, no Pirambu.
Ex-militante do PT, atualmente o
padre Haroldo era filiado ao PSOL.
Redação O POVO Online
Nota do blog: A
matéria acima não mencionou que o padre Haroldo foi um grande combatente
em defesa da democracia, candidato a governador do estado em 1986 com o slogan "bote fé no seu voto"e um pioneiro da luta
pelo PISO SALARIAL dos professores das universidades estaduais do Ceará e das escolhas públicas do estado. Registramos aqui
nossa comoção, nossa imensa tristeza ao companheiro de tantas batalhas e o
compromisso de continuarmos a luta até o fim. O seu exemplo de dignidade será
nosso nosso maior estímulo para prosseguirmos nessa jornada. Jamais o
esqueceremos. Nesta despedida
vamos homenageá-lo com músicas selecionadas Descansa em paz guerreiro
padre Haroldo.
AMIGOS QUIXADAENSES Revolvendo o baú encontrei esta crônica publicada no jornal O POVO de 20 de abril de 1989
A
Alegoria da Bengala
O ano de 1988 foi,
indiscutivelmente uma no de glória para a estimadíssima FECLESC. O
reconhecimento de seus cursos baniu o fantasma que a todos aterrorizava. A
Faculdade de Quixadá estava salva. Não fecharia jamais.
A comunidade acadêmica respirou
aliviada. A alegria contagiou a todos. E foi nesse clima que se realizou a calourada da FECLESC, por volta
do mês de abril.
A festa de confraternização dos
calouros era uma justa comemoração pela vitória merecida. A vitória do
compromisso de uns poucos, hoje no ostracismo e descambando para o
esquecimento, e da solidariedade de muitas pessoas anônimas desse sertão de meu
Deus.
Aquela calourada marcou-me por um
gesto de ternura dos estudantes. No bojo das comemorações presentearam-me com
uma bengala.
Parecia uma alusão à minha idade.
Mas, apenas parecia. Eu ainda não era tão velho, apenas passado dos quarenta.
Quarenta e “uns” anos.
Recebi com imensa satisfação o
presente. Nos anos seguintes ele teria um significado todo especial. Virou um
preciosíssimo talismã. Era uma bengala que, nas horas de luta seria empunhada
simbolicamente para intimidar o inimigo. Amedrontá-lo. E nas horas de canseira
serviria, simbolicamente, para ajudar-me a manter firmes as passadas em direção
ao futuro.
Está comigo até hoje aquela
bengala de madeira laqueada de branco. Ficará comigo até o dia em que
efetivamente necessite usá-la, talvez para a minha própria locomoção.
Ficará comigo o presente precioso
dos preciosos alunos que me confiaram a direção da faculdade e o seu próprio
destino naquele período memorável. È o símbolo material de seu apoio: os
alunos, eles próprios, sempre foram a minha bengala.
HOMENAGEM AOS QUERIDOS VELHOS DA FECLESC: LUIZ OSWALDO (O DECANO), WILLIAM, CARLOS JACINTO, WILTON PACHECO E OUTROS "DINOSSAUROS" (NO BOM SENTIDO).
A imortal FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL -FECLESC - a Faculdade de Quixadá de tantas lutas e tantas conquistas deve a sua sobrevivência digna a um punhado de professores abnegados, aos combativos estudantes da época turbulenta - os anos 80 - aos seus dedicados funcionários e a inúmeros colaboradores das comunidades do Sertão Central. Ao tentar resgatar sua história vamos homenagear, nesta postagem, o amigo e companheiro de lutas Carlos Jacinto, um dos grandes baluartes da luta pelo reconhecimento e pela criação das licenciaturas plenas em Ciências. O artigo abaixo foi publicado no jornal O POVO em 14 de maio de 2005.
Cadê a chuva Carlos Jacinto?
Gilberto Telmo Sidney Marques
EX-PROFESSOR e EX-Conselheiro da Uece
[14 Maio 16h57min 2005]
Na década de 60, através do pesquisador João Ramos, o
Ceará tornou-se pioneiro na técnica de bombardeamento de nuvens, vencendo a
incredulidade de muitos e obtendo resultados satisfatórios. Agora o avião da
FUNCEME foi doado à UECE encontrando-se sob a tutela dos jovens e brilhantes
professores do Curso de Física liderados pelo prof. Carlos Jacinto, um
companheiro e cúmplice de memoráveis batalhas.
Conhecemos Jacinto na sofrida batalha pela nossa contratação para o quadro de
professores efetivos da UECE. Aprovados em concurso público em 1983, tivemos de
lutar muito pela nossa expectativa de direito: só fomos admitidos na UECE em
1986, na prorrogação. A partir de então abraçamos a luta pelo reconhecimento
dos cursos da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central
(FECLESC) de Quixadá. Vencemos! Trabalhamos a criação da Faculdade e sua
aprovação nos Conselhos Superiores da UECE. Mais uma vitória! Criamos as
coordenações e os departamentos da FECLESC e Carlos Jacinto foi o primeiro
coordenador e depois o primeiro chefe de departamento do Curso de Ciências da
FECLESC. Na transformação da incipiente licenciatura curta de ciências, herança
medíocre da ditadura, Jacinto - juntamente com Miguel Leitão e José Maildo Nunes -
mais uma vez esteve presente e seu projeto curricular foi decisivo.
Transferido para Fortaleza, instigou o Departamento de Física e Química da UECE a substituir as ultrapassadas licenciaturas curtas por licenciaturas plenas a
exemplo do que ocorrera em Quixadá. Paralelamente a essas lutas, Carlos Jacinto
se qualificou cursando o mestrado e posteriormente o doutorado e agora cuida de
Física das nuvens. Nunca deixou de ouvir gozações. O querido prof. Paulo
Rouquayrol, disse-me uma vez que ''só gostaria de se aposentar quando visse o
Jacinto fazer chover''. A tal ''expulsória'' chegou antes e, implacável,
privou-nos do nosso decano. Há alguns anos Jacinto aceitou o desafio - o maior
de sua vida - de administrar o inadministrável Projeto Magister, um convênio da
SEDUC com a UECE e Prefeituras Municipais para qualificar professores. Um
esforço sobre-humano o levou a cruzar o Ceará inteiro e, a despeito do não
cumprimento dos acordos firmados com algumas prefeituras, o programa cumpriu
seu desiderato. Nessa tarefa, sobraram para o Jacinto, a ausência do lar, as
canseiras, as preocupações, os cabelos prematuramente embranquecidos e, quem
sabe, o reconhecimento algum dia...
Jacinto agora está de volta para suas nuvens. Não obstante o título deste
artigo, não estou cobrando nada. Carlos Jacinto já fez chover muito. Sobre sua
própria cabeça, a neve do tempo. Fez chover também no Sertão Central ao
contribuir decisivamente para a consolidação da FECLESC. Fez chover no Itapery
com a implantação das licenciaturas plenas e, recentemente, com a criação do
mestrado em Física. Fez chover enfim, em todo o território do Ceará na missão
impossível de coordenar o Magister levando a esperança, o conhecimento e o
alento para milhares de professores da rede pública e fazendo cumprir o dístico
da Uece ''Lumen Ad Viam''
Valeu Jacinto! Um grande abraço.
Nota do blog:
Carlos Jacinto de Oliveira
é bacharel em Física pela Universidade Federal do Ceará (1978), mestre em Física pela Universidade Federal do Ceará (1991) e doutor em Física pela Universidade Federal do Ceará (1998)....
Impossibilitado de abraçá-los pessoalmente desejamos a todos um ano de 2013 repleto de grandes realizações onde a esperança seja o catalisador de todas as ações e o agente motivador de novas batalhas.
Reproduzimos abaixo dois poemas de Drummond como receitas de um ano novo pleno de paz e muitas conquistas.
RECEITA
DE ANO NOVO
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.